Na ULALUME studio, cultivamos uma coleção especial de velas inspiradas na poesia — uma homenagem sensorial aos grandes poetas que acendem memórias e sentimentos. Se você se pergunta como escolhemos os versos que ganham forma e fragrância, saiba que é um processo guiado por intuição e encantamento.

Às vezes, é um poema favorito que ressoa fundo. Outras, é a sinestesia das palavras que nos provoca: uma cor, um sabor, uma lembrança antiga. Pode ser um autor que amamos, uma metáfora que arrepia, uma imagem que perfuma o pensamento.

E quando o poema se revela, começa a alquimia: buscamos o aroma capaz de traduzir a experiência da leitura. É uma jornada subjetiva, quase mágica, onde cada fragrância tenta capturar aquilo que só a poesia consegue tocar.

Aqui estão os poemas que inspiraram as velas nossa coleção Poesias Inspiram Aromas:

 

 

"PERFUME EXÓTICO", de Charles Baudelaire

Tradução: Guilherme de Almeida

De olhos fechados, quando, alta noite, no outono,

Respiro o cheiro bom dos teus seios fogosos,

Vejo entreabrir-se além dos cenários deleitosos

Cintilando ao ardor de um sol morno de sono;

 

Uma ilha preguiçosa e molenga e sem dono

Em que há árvores ideias e frutos saborosos;

Homens de corpos nus, finos e vigorosos,

Mulheres cujo olhar tem franqueza e abandono.

 

Guiado por teu perfume às paragens mais belas,

Vejo um porto a arquejar de mastros e de velas

Ainda tontos talvez da vaga alta que ondula,

 

Enquanto um verde aroma-o dos tamarineiros-,

Que passeia pelo ar e que aspiro com gula,

Se mistura em minha alma à voz dos marinheiros.

 

No poema Perfume Exótico, Baudelaire mobiliza o olfato como via de acesso ao imaginário, conduzindo o leitor a uma ilha onírica e sensual, onde o corpo amado se torna paisagem e porto. A experiência poética é marcada por uma sinestesia intensa — o perfume evoca imagens, sons e atmosferas tropicais, fundindo erotismo e exotismo em uma estética decadentista.

A fragrância que acompanha este poema busca traduzir essa viagem sensorial por meio de notas quentes e envolventes. A doçura da baunilha e do coco evoca o prazer tátil e gustativo, enquanto o patchouli e o âmbar conferem profundidade e mistério. O sândalo e as especiarias, por sua vez, acrescentam uma dimensão ritualística, quase sagrada, à experiência. Trata-se de uma vela que não apenas perfuma, mas convoca ao devaneio — um convite à deriva poética e sensorial.

 

 

"BRISA MARINHA", de Stéphane Mallarmé

Tradução: Augusto de Campos

 

A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.

Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,

Ébrios de se entregar à espuma e aos céus imensos.

Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,

Impede o coração de submergir no mar

 

Ó noites! nem a luz deserta a iluminar

Este papel vazio com seu branco anseio,

Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.

Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,

Ergue a âncora em prol das mais estranhas plagas!

 

Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,

Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!

E é possível que os mastros, entre ondas más,

Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem mastros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...

Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do mar!

 

Em Brisa Marinha, Mallarmé expressa o desencanto com o mundo terreno e o desejo de evasão — uma fuga estética e existencial rumo ao desconhecido. O eu lírico, saturado de saber e de tédio, anseia por um horizonte marítimo onde o espírito possa se dissolver na vastidão. O mar, símbolo de liberdade e transcendência, torna-se metáfora do inconsciente e do absoluto.

A fragrância que acompanha este poema traduz esse anseio por transcendência com notas aquáticas e verdes, que evocam a brisa salgada, o frescor das algas e a umidade do musgo. O cassis e o muguet acrescentam leveza e sofisticação, enquanto o musk confere uma base suave e contemplativa. É uma vela que convida à introspecção e à partida — não apenas geográfica, mas interior. Um sopro poético que dissolve as fronteiras entre corpo, tempo e espaço.

 

 

"AMOR", (AMEMOS!), de Álvares de Azevedo

 

Amemos! Quero de amor

Viver no teu coração!

Sofrer e amar essa dor

Que desmaia de paixão!

 

Na tu’alma, em teus encantos

E na tua palidez

E nos teus ardentes prantos

Suspirar de languidez!

 

Quero em teus lábios beber

Os teus amores do céu,

Quero em teu seio morrer

No enlevo do seio teu!

 

Quero viver d’esperança,

Quero tremer e sentir!

Na tua cheirosa trança

Quero sonhar e dormir!

 

Vem, anjo, minha donzela,

Minh’alma, meu coração!

Que noite, que noite bela!

Como é doce a viração!

 

E entre os suspiros do vento

Da noite ao mole frescor,

Quero viver um momento,

Morrer contigo de amor!

 

O poema de Álvares de Azevedo pulsa com o romantismo arrebatado do século XIX — amor que deseja morrer no seio amado, que sonha nos cabelos da donzela, que vive da esperança e do delírio. É uma lírica marcada pela languidez e pelo desejo de fusão amorosa.

A fragrância “Amemor” traduz esse lirismo com uma composição doce e envolvente. A baunilha e o caramelo aquecem como um afeto juvenil, enquanto a rosa e a orquídea conferem sofisticação romântica. As frutas vermelhas adicionam um toque de frescor nostálgico. Uma vela que sussurra promessas e desperta lembranças.

 

 

XIII [Ora (direis) ouvir estrelas], de Olavo Bilac

 

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

 

Neste soneto, Bilac propõe uma escuta amorosa do cosmos. Ouvir estrelas é, para o poeta, um exercício de sensibilidade e entrega — só quem ama é capaz de compreender o que elas dizem. A poesia se torna, aqui, uma forma de transcendência amorosa e cósmica.

A fragrância que acompanha o poema é etérea e contemplativa. A flor de lótus, combinada a notas cítricas e florais, evoca a leveza do céu noturno. O sândalo e o cashmeran conferem profundidade e serenidade, enquanto o musk envolve com suavidade. Uma vela que convida à escuta interior e à contemplação do infinito.


E você? Qual poema ou escritor você gostaria de ver transformado em fragrância? Que versos acenderiam sua memória, sua casa, seu coração?